Mulheres Autistas no Mercado de Trabalho: Desafios do Diagnóstico Tardio
No Mês da Mulher, uma Reflexão Necessária
Março é um mês de celebração e reflexão. Enquanto honramos as conquistas femininas, também nos preparamos para abril, o Mês de Conscientização do Autismo. Mas você já parou para pensar no autismo feminino? Um tema invisibilizado, mas que afeta milhares de mulheres diariamente.
Um Símbolo, Muitas Histórias
Você já viu o símbolo do quebra-cabeças associado ao autismo? Criado em 1960, ele sugeria que autistas eram “incompletos”. Mas a comunidade rejeitou essa ideia. Em 1999, surgiu o símbolo do infinito colorido, representando diversidade e possibilidades infinitas.
Agora que você sabe disso, quando encontrar esse símbolo, lembre-se: ele representa empoderamento e inclusão.
Autismo Feminino: O Que Ninguém Te Conta
Historicamente, o autismo foi estudado com base em padrões masculinos. Isso fez com que muitas mulheres ficassem sem diagnóstico, mascarando seus desafios para se encaixar. O resultado? Esgotamento extremo, crises silenciosas e dificuldades invisibilizadas.
Se você já se sentiu exausta sem motivo aparente, se já achou que precisava se esforçar mais do que os outros para parecer “normal” ou se sente que ninguém realmente entende o que se passa dentro de você, talvez essa história te diga algo mais profundo.
O que é rotulado como “pouco social” ou “difícil de lidar” pode ser, na verdade, uma forma diferente de experienciar o mundo.
Minha Jornada: Do Desconhecimento à Conscientização
Aos 38 anos descobri que era autista. Depois de anos atuando na advocacia, lidando com ambientes intensos e interações desgastantes, percebi que meu sucesso vinha a um custo alto: minha própria saúde mental.
O diagnóstico trouxe dois sentimentos opostos: alívio e indignação. Quantas outras mulheres vivem esse mesmo ciclo sem saber? Quantas se sentem esgotadas o tempo todo, achando que não são fortes o suficiente para lidar com a vida? Quantas foram chamadas de “sensíveis demais”, “complicadas”, ou até mesmo se convenceram de que o problema era com elas?
Hoje, com 41, permaneço acreditando na importância deste diálogo. Se o trabalho é um direito, precisamos garantir que ele também seja acessível para todas.
Dados que nos Fazem Pensar:
🔹 Mulheres autistas têm até 4 vezes mais chance de receber um diagnóstico incorreto. (JAMA Psychiatry, 2022)
🔹 O masking (camuflagem social) leva ao esgotamento mental extremo no trabalho. (Gould & Ashton-Smith, 2011)
🔹 92% das mulheres autistas relatam dificuldades no ambiente corporativo. (Universidade de Cambridge, 2021)
🔹 Apenas 22% das empresas têm políticas para neurodiversidade. (Deloitte, 2022)
Desafios no Mercado de Trabalho:
📌 Networking e comunicação indireta;
📌 Ambientes ruidosos são altamente desgastantes;
📌 Falta de compreensão sobre neurodivergência resulta em exclusão.
Muitas mulheres autistas possuem altas habilidades, mas sem suporte adequado, acabam sobrecarregadas e subestimadas. E quando isso acontece, a frustração, o isolamento e a sensação de inadequação aumentam. Você já sentiu isso?
Como Empresas Podem Ser Mais Inclusivas?
Para transformar esse cenário, algumas mudanças são essenciais:
✅ Capacitar líderes para apoiar talentos neurodivergentes.
✅ Oferecer instruções claras e objetivas.
✅ Criar espaços de trabalho silenciosos e flexíveis.
✅ Adaptar recrutamento para avaliar potencial real.
✅ Implementar trabalho remoto ou híbrido quando possível.
É claro que antes de todas estas adaptações, o mais importante é a conscientização da liderança e, na sequência, dos próprios colaboradores. Sem isso, nenhuma mudança será eficaz e duradoura.
Reflexão Final
Por muito tempo, achei que me faltava algo. Que eu precisava ser mais resistente, mais sociável, menos intensa. Se você já se sentiu sobrecarregada, deslocada ou até mesmo incapaz de manter o ritmo do mundo, saiba que você não está sozinha. O símbolo do infinito colorido traduz melhor quem somos: diversas, infinitamente complexas e cheias de possibilidades.
Nos últimos 3 (três) anos, minha missão tem sido ajudar outras mulheres a se reconhecerem e, especialmente, apoiar empresas a construírem ambientes mais inclusivos, seja por meio de palestras ou treinamentos.
Compartilhe, reflita e junte-se a essa causa!
Natalia Viotti é autista com altas habilidades e superdotação. Advogada especializada em Direito do Trabalho Empresarial, graduada pela Universidade Católica de Santos, com pós-graduação em Direito Empresarial pela FDDJ e em Psicologia Positiva pela PUC. Especialista em Gestão de Pessoas e Compliance Trabalhista pela FGV, tem como hiperfoco o estudo da neurodiversidade e se destaca no desenvolvimento de profissionais. Além disso, é mentora de advogadas e mulheres empreendedoras, ajudando-as a construir carreiras mais estratégicas e impactantes. Autora do livro A Inclusão de Autistas no Mercado de Trabalho, atua na conscientização e promoção da inclusão no ambiente corporativo.